Mercado de Trabalho
Os avanços da tecnologia empurram
o mercado de trabalho para mudanças cada vez mais drásticas e transformadoras.
De acordo com uma análise feita pela consultoria Ernst & Young, com base em
diversos estudos, até 2025 um em cada três postos de trabalho devem ser
substituídos por tecnologia inteligente. Em nove anos, há previsão da possível
extinção de profissões operacionais, como operador de telemarketing, caixa e
árbitros, e uma maior demanda por carreiras que lidem diretamente com
tecnologia de ponta, como designer especializado em impressão 3D e designer de
realidade virtual.
— O mercado, nos próximos anos, aposta
em profissionais que têm facilidade de se relacionar com várias culturas e
perfis diferentes ao mesmo tempo. O grande ponto para que você tenha sucesso
não está ligado necessariamente ao que você sabe e sim a como você consegue
interpretar, analisar e interligar os dados disponíveis — afirma Antonio Gil,
sócio da área de Gestão de Pessoas da Ernst & Young no Rio.
José
Augusto Figueiredo, presidente no Brasil e vice-presidente na América Latina da
consultoria LHH, lembra que a robotização é um tópico inevitável neste debate.
Segundo ele, todas as forças de trabalho que podem ser eficientemente
substituídas por máquinas, uma hora ou outra, deixam de existir.
— É o caso dos caixas de banco, cada
vez menos procurados em função dos dispositivos eletrônicos, ou profissionais
que cuidavam do check-in em companhias aéreas, uma atividade que foi
praticamente toda robotizada — ilustra ele.
Por outro lado, como pondera
Figueiredo, carreiras pautadas na interpretação humana e na emoção tendem a
oferecer mais segurança neste sentido.
— Dificilmente uma enfermeira, um
psicólogo ou um gestor de pessoas será substituído desta maneira — menciona
ele.
Mas prever o fim de uma determinada
profissão, entretanto, não deve ser necessariamente algo apocalíptico. Na
opinião de Figueiredo, cabe ao profissional observar as tendências e se
antecipar às mudanças.
— Às vezes, precisamos nos adiantar em
dez anos — resume ele. — Temos que estar sempre aprendendo novas tecnologias e
observando os caminhos possíveis para aquela área de atuação. A profissão de
carteiro, por exemplo, certamente está ameaçada pelo declínio no volume de
correspondências. Entretanto, o trabalho com uma empresa de logística está
cheio de possibilidades, já que a entrega de compras feitas pela internet só
aumenta.
A especialização é o caminho que o
profissional deve encontrar para sobreviver, acredita Celso Georgief,
especialista em Recursos Humanos e sócio diretor da DSG Brasil. Ele concorda em
parte com a lista feita pela Ernst & Young.
— Não acredito no fim da profissão de
contador, por exemplo. A função será aperfeiçoada, e este profissional deverá
estar capacitado para maior envolvimento com aspectos de auditoria,
departamento financeiro e análise de gestão — afirma ele.
Especialista em consultoria contábil, o
fundador do Grupo Insigne, Sérvulo Mendonça, também acredita na transformação
da profissão, fruto de adaptações educacionais, currículos, formas e modelos de
atuação e técnica mais vinculada aos mecanismos tecnológicos.
— Essa afirmação pode fazer com que
jovens talentos não busquem as tais profissões — alerta ele.
Para os que têm uma profissão em
iminência de extinção, Georgief alerta para a necessidade de um
redirecionamento de carreira. E para ontem.
— Este profissional precisa estar
atento a oportunidades ou áreas que são atraentes e ter criatividade e coragem
para tentar a mudança. Um profissional de coaching poderá ajudar nisso —
aconselha.
FUTURO LOGO ALI
Em contrapartida, professores, tão
desvalorizados no aspecto financeiro, segundo o estudo, terão dias melhores.
Antonio lembra que o ensino passará a ser pontual, atendendo às necessidades e
demandas específicas de cada indivíduo, além de haver a consolidação do ensino
à distância.
Funcionária da Cultura Inglesa, Vaddie
Najnan já vive esta realidade. Professora de inglês desde 2003, ela passou a se
dedicar inteiramente às aulas online.
— A vantagem é que consigo organizar os
meus horários e trabalhar de casa. No dia a dia não há muito diferença,
principalmente para os alunos, que têm rendimento muito bom ao falar, escutar e
pensar o tempo todo em inglês — relata ela, lembrando que o seu valor salarial
é o mesmo de um professor do curso presencial da empresa.
O jovem que está entrando agora no
mercado de trabalho não encontra instituições para prepará-lo para este novo
mundo, acredita Tiago Mattos, fundador da escola de atividades criativas
Perestroika, especialista em futurismo.
— O sistema que conhecemos hoje foi
todo inspirado pelo sistema de educação pública, massificada e gratuita,
concebido na Europa. Ele foi criado à imagem e semelhança do contexto
profissional da época: a Revolução Industrial. Portanto, as escolas hoje nos
preparam para um trabalho em fábricas. As universidades pararam no tempo. A
maioria prepara os estudantes para profissões que não existem mais — afirma ele,
que consegue ver modelos de aprendizagem que se massificarão em breve:
— Vejo pelo menos três no curto prazo.
A aprendizagem móvel (via celular, no momento em que o estudante desejar);
aulas em realidade virtual (que nos permite viver situações que seriam
impossíveis de reproduzir analogicamente); tutores via inteligência artificial
(como o Smart toy Cognitoy), que promoverão uma aprendizagem mais de acordo com
a curiosidade do aluno do que com a intenção do professor. Sem falar, claro, no
autodidatismo (via plataformas colaborativas ou tutoriais do Youtube) — relata
o especialista em futurismo.
SEM PREPARAÇÃO
Antonio
Gil, da Ernst & Young: jovens não têm tanto medo de errar -
menos de 50% das corporações possuem talentos na casa preparados para assumir
posições críticas.
— A informação empoderou as pessoas.
Hoje, os jovens conseguem comparar organizações sob as mais diversas
perspectivas. Aquela estrutura tradicional de organograma está sendo desafiada
— diz Oliver Kamakura, sócio da área de Gestão de Pessoas da consultoria, que
destaca mudanças ainda na filosofia de vida desta geração:
— A motivação das pessoas para
trabalhar oito horas por dia não é mais somente o dinheiro e sim a
identificação com um propósito alinhado ao seu objetivo pessoal — salienta.
Antonio Gil Franco, também sócio da
área de Gestão de Pessoas da Ernst & Young, acredita que a nova geração de
trabalhadores se preocupa muito mais em fazer parte de uma empresa que ela
tenha orgulho.
— Um estudo mostra que, em 2025, o
indivíduo poderá ter passado por mais de 10 postos de trabalho até os 25 anos.
É uma geração que não tem tanto medo de errar e de se expor. Mesmo em um
cenário de crise, é muito critica. Eles entendem que o nome deles é importante,
querem ter uma legado — explica ele.